23/10/11

A rede e o subproduto



Os instrumentos da rede digital procuram produzir uma imagem das redes sociais do mundo real.

Como todas as imagens do mundo construídas pelo labor intelectual humano, estas imagens são meras ficções. Os seus perigos são os mesmos de sempre: confundir a imagem com a realidade acarreta a perda de rumo, o conflito neurótico com a realidade vivida.

Como todas as imagens, o blog baseia-se na realidade para construir a sua ficção. Continua a aplicar-se a velha máxima de que uma boa mentira, para ser convincente, deve conter uma parcela da verdade.


Os blogs são um subproduto da sociedade de consumo desenfreado.

Tal como a sociedade de consumo, o blog produz uma quantidade assustadora de poluição - no caso vertente, poluição mental.

A visão curta, com prazo de validade de 24 horas, sem um tempo de reflexão, é a vocação do blog.
Nele se aniquilam algumas tendências naturais da escrita: períodos prolongados de ponderação e reflexão; visões alargadas da realidade; exercício de memória reflexiva; extensão da memória, permanência no tempo.

Este blog, como os demais, tem pecado por desvario consumista.

Esperemos que exista ainda nos blogs uma nesga de espaço para a reflexão, embora limitada.


Já o FaceBook não contém em si qualquer nesga de espaço reflexivo. 

O FB cruza uma imagem virtual das redes sociais vivas com uma imagem estrita do consumismo mais exarcebado.

A natureza do FB é a mesmíssima dos produtos para consumo rápido e compulsivo: cada produto emitido tem de «comer» ou anular os produtos anteriores, como forma de sobrevivência.

Deste ponto de vista, o FB constrói uma imagem interessante da sociedade contemporânea: um mecanismo de autofagia.

Finalmente, o FB mimetiza a vida real nesta coisa curiosa: os seus consumidores estão firmemente convencidos de que não existe sobrevivência possível fora do FaceBook (ou seja, fora do consumo) - aderir ao FB, render-se ou morrer.

Espanta, por isso, que eu permaneça vivo.
Ou talvez já seja apenas fóssil e não o saiba.


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