29/05/12

O bufo-mor volta a atacar


Arménio Carlos, funcionário sindical, secretário-geral da CGTP e bufo profissional como já mostrámos aqui e aqui, volta a atacar os trabalhadores e a população em geral. Desta vez foi fazer queixinhas da economia paralela, que, segundo ele diz, se fosse perseguida e taxada resolveria o problema do défice português.


Arménio Carlos é uma pessoa bastante inteligente e com sólida formação académica, como pode comprovar quem já assistiu às suas palestras, portanto não se pode levar à conta de inocência ou estupidez isto que ele diz. Ele está de facto a atiçar o Governo contra uma parte considerável da população portuguesa, a apresentar essa cruzada como a salvação da pátria, sabendo no entanto, que a única coisa que essa cruzada salvaria seriam os bancos. É, em suma, um testa-de-ferro dos nossos algozes. A sua intervenção é tão importante para o sistema financeiro, que acontece esta coisa miraculosa: uma rápida busca na Internet revela que não há um só jornal nacional (além de vários regionais), rádio ou televisão que não tenha reproduzido abundantemente as suas palavras. Quem segue atentamente o comportamento da Voz do Dono portuguesa (indevidamente chamada também «comunicação social») percebe imediatamente o alcance desta cobertura maciça, e portanto o alcance das palavras de Arménio.

De que fala Arménio quando fala de «economia paralela»?

Em entrevista ao Público de 16-01-2012, dois responsáveis do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, da Faculdade de Economia do Porto, definem «economia paralela» do ponto de vista daquela instituição: «Quando falamos de economia paralela podemos estar a falar de 20 coisas diferentes. Podemos estar a falar de produção ilegal (actividade não autorizada), de produção subterrânea (fuga aos impostos), que é a mais relevante em Portugal, e de produção informal [os biscates]. Mas também podemos incluir a produção para autoconsumo, e ainda a produção que não é considerada pelas estatísticas.» Estas actividades económicas, segundo o relatório publicado pela instituição em referência, ascendem a 25% do PIB (ou seja da riqueza produzida em Portugal).

Estamos portanto a falar de actividades económicas que escapam ao fisco – mas não das grandes empresas comerciais e financeiras legais, que fogem ao fisco e se escondem em paraísos fiscais.

A economia oblíqua será melhor que a economia paralela?

Na verdade, nem tudo o que é paralelo é economia,
e eu desconfio muito que Arménio Carlos
tem uma vaga noção acerca do assunto.

Existe uma diferença clara entre economia legal mas com truques de incumprimento e fuga fiscal, e economia paralela. Na opinião da citada instituição, a «economia subterrânea» (uma espécie de destilarias clandestinas do tempo da Lei Seca, só que hoje em dia produzem vestidinhos da moda Zara em vez de álcool) pesa mais no PIB do que os biscates, a economia de subsistência, etc. Na nossa opinião isso não está provado e provavelmente jamais se comprovará.

Esses famosos 25% do PIB incluem: as manobras desesperadas de milhares de desempregados que para sobreviverem dão explicações clandestinas, fazem biscates não declarados, vendem sanduíches nas ruas do Bairro Alto durante o dia; as pessoas que plantam hortas de subsistência; o canalizador reformado que faz uns biscates para completar a pensão miserável; etc. A estes Arménio Carlos junta as pequenas tascas, mercearias e cafés de bairro que para não falirem não passam facturas; os junkies e ciganos que vendem na rua os produtos fabricados nessa tal de economia subterrânea; etc.

O que Arménio Carlos disse, trocado por miúdos, é que o Estado deve desenvolver novos mecanismos para dar caça à economia paralela. Ora, é óbvio que os mecanismos fiscais actuais não podem dar conta do recado, em virtude da natureza das actividades em causa. Por conseguinte o que Arménio Carlos está a propor é muito simplesmente isto: que cada um de nós seja um bufo, que a sociedade inteira se torne uma sociedade de bufos – sempre vigilantes, sempre mutuamente denunciadores uns dos outros; tal como acontece com a polícia, que recebe comissões por multa, o cidadão receberia um bónus (pecuniário ou fiscal) por cada denúncia – como de resto acontecia no tempo do Salazar, que a esta hora deve estar na sua tumba a rejubilar e a bater palmas ao Arménio Bufo.


fontes:
Sobre as declarações de Arménio Carlos: Ionline – mas todos os outros jornais reproduzem a mesma notícia.
Sobre economia paralela:
http://www.gestaodefraude.eu/
http://economia.publico.pt/Noticia/economia-paralela-subiu-em-portugal-e-vale-quase-25-do-pib-1529201
http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/01/16/economia-paralela-em-portugal-representa-25-do-pib


Sem comentários:

Enviar um comentário