06/06/13

A teoria do valor, o mijo e a CML


Sai actualmente mais caro mijar para os esgotos de Lisboa, do que beber o copo de água que gera o mijo.

Seria isto um magnífico exemplo da teoria do valor acrescentado pelo labor humano, não se desse o caso de não o ser. É, na verdade, um magnífico exemplo do banditismo da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que inventou 5 (cinco) impostos de saneamento sobrepostos ao consumo de água propriamente dito (para além de outros que não vêm ao caso).


Exemplo de uma factura da água (rubrica «contas de terceiros»):
Adicional CML:
1,73
Saneamento variável CML:
3,51
Saneamento fixo CML:
2,50
Taxa de recursos hídricos ARH
0,32
Taxa de recursos hídricos de saneamento ARH
0,16
Total de taxas
8,22

A arma que a pandilha dos meliantes autárquicos nos aponta à cabeça para extorquir esses 5 tributos é primeva mas eficaz: ou pagas ou sofres a privação do bem mais urgente e necessário a um ser humano: água. Por uma coisinha de nada assim se iniciou o processo de independência da Índia (neste caso com o sal, em vez da água).

Seria portanto preferível ir viver para um bairro de lata, onde, não existindo serviço camarário de saneamento, existe o mesmo cheiro a mijo e a mesma acumulação de lixo que se verifica nos lugares onde existe serviço camarário de saneamento, com a diferença de no bairro de lata não ser necessário pagar o dito cujo, por não existir água canalizada ao domicílio.

Acontece que o processamento do lixo é um dos negócios mais rendosos à face da terra. Ele produz energia, ele produz metais, ele produz papel, ele produz tecidos, … Ele foi, durante gerações, o ganha-pão de gente que andava de rua em rua, com um carrinho de mão, ou uma carroça puxada por uma mula, ou um macho, ou um burro, recolhendo os desperdícios dos moradores que seriam depois transformados em matéria primária para outras indústrias.

Hoje, os trapeiros, funileiros e outros respigadores do lixo alheio foram substituídos por grandes empresas privadas que detêm o monopólio do lixo e sugam os dinheiros públicos (isto é, os tais 5 tributos que a Câmara nos cobra mensalmente) e a mula que empurra a carroça do lucro privado é representada na pessoa de António Costa.

A única tarefa que a Câmara se reservou foi aquela que não pode produzir lucro: a recolha dos lixos, para os entregar aos privados que os transformam em lucro.

E mesmo isso já nem tanto assim. E essa é a questão que aqui me traz.

As ruas deixaram de ser lavadas, o lixo acumula-se junto de ecopontos sobrelotados, redemoinham nos ares sacos, esferovites, papéis, embalagens de pronto-a-comer. Pelo chão rolam garrafas, lâmpadas, caixotes de cartão, folhas de jornal, camisas-de-vénus, cagalhões de cão, pulgas, baratas, pombos piolhosos e ratos.

E nós pagamos as 5 taxas de saneamento. Queiramos ou não. Ainda que sem razão de ser. Basta que necessitemos de água. Beber um copo de água da torneira, tomar banho ou lavar a roupa já não são actos de higiene pessoal. São formas de alimentar o lucro das empresas privadas. É um mal que, felizmente, nos passará quando morrermos, ressequidos ou não.

Exortação aos habitantes de Lisboa

Enquanto a CML não cumprir a sua obrigação de recolher com a regularidade e eficiência necessárias o lixo dos pontos de reciclagem, enquanto não voltar a lavar e varrer as ruas,
Enquanto a CML não retirar das contas da água as taxas destinadas a pagarem esses serviços,
Enquanto a CML não retirar às empresas privadas o processamento do lixo, retomando em mãos a extracção de lucro do lixo produzido pelos munícipes-contribuintes,

Apelo a todos os moradores de Lisboa para que:

  • NÃO FAÇAM SEPARAÇÃO DE LIXO – metam todo o lixo (orgânico, plásticos, vidros, metais, plásticos, papéis) no contentor comum de lixo – o único que ainda é recolhido diariamente –, para que nada permaneça a enjavardar as ruas durante dias a fio.
  • FAÇAM QUEIMADAS A CÉU ABERTO JUNTO DOS ECOPONTOS – se os vossos concidadãos insistirem em depositar pirâmides de lixo junto dos ecopontos atafulhados, a céu aberto, gerando uma situação sanitária caótica, não hesitem: façam uma queimada a céu aberto, para pôr fim à javardice. Em último recurso, se nada disto resultar, queimem também os contentores do ecoponto, para pôr termo à situação.

Nota previdente, antes que se criem confusões desnecessárias: Quaisquer consequências futuras das formas de luta que os funcionários da CML entendam adoptar a bem da garantia de condições de trabalho e remuneração dignas não são para aqui chamadas, não têm qualquer relação de causalidade com o que fica acima exposto e merecem desde já a minha solidariedade.

(foto de portugal-hd.blogspot.com)
local-2, 6-06-2013 (foto de Bilioso)

local-1, 6-06-2013 (foto de Bilioso)



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