12/01/14

Acreditas nos OVNIS?

Já tive de responder tantas vezes ao longo da vida a esta pergunta, que vou simplificar as coisas escrevendo a resposta duma vez por todas nesta página, onde os curiosos acerca das minhas crenças poderão encontrar a devida explicação, poupando-me a maiores gastos de tempo e energia.


03/01/14

Quem não sabe da metodologia e dos princípios não devia armar-se em docente do ensino superior

Um artigo de Mário Branco sobre o direito ao trabalho deu-me volta ao estômago. O que me provoca engulhos em «Direito ao Trabalho (4ª parte)» é sobretudo (porque muito mais haveria a apontar) o seguinte:
  1. A ideia de que vivemos numa sociedade livre, e de que a liberdade pode ser definida em função da liberdade de votar, de ser eleitor e de pedir responsabilidades aos eleitos (no acto eleitoral seguinte, supõe-se).
  2. A ideia de que todo o cidadão é culpado até prova em contrário.
  3. A ideia de que o trabalho é, e deve continuar a ser, um importante factor de socialização, aprendizagem e disciplinamento social.
Sobre o primeiro ponto não vou deter-me desta feita. Nos dois pontos seguintes reside a causa principal do meu enojamento, e é aí que quero centrar-me.

Bolas para a causalidade

Maravilhosa associação, bolas para a associação

O cérebro humano nasce com uma espécie de hardware de origem que dá pelo nome de associação. Esta capacidade de estabelecer associações entre diferentes objectos é emulada em certas linguagem de programação (por exemplo em Smalltalk) por uma função que dá precisamente pelo nome de «association» e que é representada da seguinte forma: chave → valor. Ou seja, a uma determinada chave/apontador corresponde um outro objecto. Estas associações, por sua vez, agrupam-se em grandes conjuntos para formar aquilo que se chama, na linguagem de Smalltalk – tal como na linguagem corrente – , um dicionário.

É claro que o cérebro humano funciona de modo muito mais sofisticado que o Smalltalk, mas o princípio fundamental é o mesmo: o estabelecimento de ligações permanentes entre objectos (ou representações desses objectos), criando entre eles canais que permitem encontrar um por intermédio do outro e enviar mensagens de um para outro. Esta habilidade basilar permite fazer maravilhas, a começar pela fala, que estabelece uma ligação permanente entre um som e um objecto. 
 
À partida não tem de haver nenhuma relação – lógica ou outra – entre os objectos duma associação; é o nosso cérebro que a estabelece casualmente, e se necessário contra toda a lógica. Na verdade, para que haja uma associação verdadeira é necessário que ambos os objectos sejam distintos e autónomos.

Aqui deparamo-nos com o primeiro perigo, ligeiramente demencial: começarmos a confundir a chave com o objecto que lhe está associado. É assim que certas pessoas (seja por ignorância, seja por um mau funcionamento qualquer do seu hardware) rompem a autonomia que deve existir entre a palavra e o objecto que ela designa, começando a baralhar e intermutar as respectivas propriedades dos objectos, numa reacção de associações em cadeia – o verde adquire o valor da esperança, o Emanuel adquire qualquer coisa de divino, Vénus adquire mamilos e, sabe-se lá porquê, talvez por simples associação sonora, a vizinha Vanessa torna-se desejável e boa como o milho.