08/09/11

A censura aperta

De repente tornou-se evidente, mesmo para os mais cépticos, que estamos a viver uma época de grande cerco censório e crescente repressão.

Passado um período inicial de surpresa e estupor, em que os poderes públicos europeus levaram o seu tempo a perceber o papel crucial dos novos meios de comunicação digital e das redes sociais nas acções de protesto e resistência civil, a censura e as escutas foram reinstauradas.

Os governos e serviços secretos europeus acordaram para a realidade há algum tempo – sobretudo depois das revoluções no Norte de África – e deixaram de brincar em serviço.

A censura camuflada, oficialmente não existente, é muito difícil de expor e denunciar perante a maioria da população. Sem dúvida era mais fácil no tempo da ditadura, quando a censura e a polícia política eram institucionalizadas, criadas por decreto e chamadas pelos nomes, sem rebuço.

O número de activistas sujeitos a escuta telefónica desde o 12 de Março (ou antes) é assustador. Aliás, uma só escuta que fosse já seria assustadora quanto baste.
Nos últimos meses vários sites (pacíficos) de esquerda em diversas partes da Europa foram bloqueados e perseguidos.
Nos últimos dias têm-se acumulado as provas de censura nas páginas do FaceBook e de blogs dinamizadas por pessoas ligadas aos movimentos sociais em Portugal. Algumas dessas páginas foram suspensas sob a acusação (totalmente infundada) de spam – quando na verdade se limitaram a fazer eco de artigos de jornal onde certos assuntos eram denunciados. Este blog que estão a ler viu esta semana os seus últimos artigos censurados nos feeds doutros blogs. Muitas páginas funcionam mal, ficam misteriosamente offline durante longos períodos, etc.

Noutros casos, por exemplo quando se publicitam convocações de manifestações de protesto, as datas são alteradas. Tentamos corrigi-las, voltam a ser alteradas. É um processo de censura sofisticado – alterar em vez de bloquear.

Assim, por exemplo, numa certa página, a data de convocação da MANIFESTAÇÃO DOS PROFESSORES em Lisboa, marcada para o ROSSIO, DEZ DE SETEMBRO, foi sucessiva e misteriosamente alterada para o dia seguinte.

Trata-se duma subtil mistura de censura e contra-informação, como mandam os manuais de antiguerrilha criados pela França durante a guerra de independência da Argélia e ainda hoje actuais (aliás, nessa época até os agentes secretos americanos foram tirar cursos a França).

É de crer que a nossa resposta a este novo tipo de ditadura terá de recorrer por um lado ao uso dos novos meios de comunicação digital e em rede (inestimáveis), temperado com uma enorme dose de imaginação para ludibriar a censura, como se fazia antes do 25 de Abril de 1974; por outro, a velhos métodos mais ou menos artesanais de propaganda e comunicação, adaptados aos tempos modernos.

É urgente que os movimentos cívicos e de resistência montem os seus sites de forma autónoma, fora de plataformas altamente controladas como o Blogspot e o Facebook; e que as pessoas interessadas em lê-los instalem redes virtuais seguras (que permitem evitar a maioria das intromissões do Estado e das grandes empresas) – infelizmente, tornar um computador pessoal seguro exige bastantes conhecimentos técnicos.

Está na altura de começarmos a fazer cursos intensivos, clandestinos, de segurança – como nos «velhos tempos».

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P.S.: 24 horas depois da publicação deste artigo, os feeds do blog voltaram a funcionar.

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