No decurso da semana finda, as autoridades públicas despejaram grande número de famílias residentes no Bairro Bensaúde (Olivais, Lisboa). No final desta operação, que ainda está em curso, espera-se que sejam desalojadas mais de 100 pessoas, na sua maioria menores, incluindo crianças com menos de um ano de idade. Os despejos têm sido acompanhadas pela destruição de bens pessoais. Não se registaram actos de resistência por parte dos moradores.
Estas famílias, vendo-se na rua, ao frio, ao vento e à chuva, sem acesso a uma alternativa de habitação, nem sequer a um abrigo provisório, fizeram o que qualquer homo sapiens teria feito: tentaram proteger-se a si e às suas crias, improvisando abrigos com lonas. A polícia foi enviada ao local (estamos a falar de polícia municipal e polícia de choque!) para desmontar os abrigos improvisados …
As autoridades públicas «justificam» o seu comportamento bárbaro com o facto de: 1) estas famílias terem ocupado as casas (que servem para fins sociais e estavam vagas); 2) existir uma decisão dos tribunais, datada de há vários anos, declarando a ilegalidade daquela ocupação. Note-se que algumas destas ocupações, segundo relato dos moradores, duram há 10 anos e os moradores tiveram de investir consideravelmente em obras, porque as entidades encarregadas de gerir as habitações sociais em causa nem as atribuíram a ninguém nem investiram na sua conservação e melhoria.
É importante sublinhar que estamos a falar da execução de uma decisão judicial com data vários anos anterior ao actual pico da crise de habitação e portanto totalmente desadequada à situação de emergência social hoje vivida.