Quanto mais frágil é o movimento social, o projecto político e a mobilização das populações em torno de um tema social, tanto maior o chinfrim, a zaragata tertuliana, o choque entre grupelhos e pessoas, por dá-cá-aquela-palha. Esta é uma regra segura para auscultar a saúde dos movimentos sociais.
Há dias assistimos a uma dessas chinelices: um enorme chinfrim nalgumas páginas de internet em torno duma «Oficina de Urbanismo Feminista» organizada por Mulheres na Arquitectura e anunciada assim: «As cidades, os bairros, as ruas são os próprios campos de trabalho, reflexão e proposição, também campos de batalha» e assim: «oficina destinada a pessoas que se identificam como mulheres». Como estamos na era do Facebook, é difícil saber se o que lemos representa mesmo o pensamento das autoras ou se resulta de desleixo ou inépcia na escrita. Por mim, parto do princípio que, ao escreverem «como mulheres», as autoras pretendem significar «com as mulheres» ou «com as causas das mulheres», visto que doutra forma se geram possíveis conotações sexistas e perpassa como que o apelo a um modelo passadista de mulher – ou, mais simplesmente: a um modelo identitário qualquer.
Não me estranha que alguém organize um convívio, uma reunião, um debate ou um seminário estritamente reservados a clientes habituais. Se os bares fazem isso, se os partidos fazem isso, se as ordens profissionais fazem isso, se o governo faz isso (a diplomacia secreta é uma instituição consagrada e tacitamente aceite pelos eleitores), por que carga d'água não poderiam fazê-lo as arquitectas feministas?