05/03/21

Não acredito em índices de estupidez iguais ou superiores a 100 %

 

«O Anjo Exterminador», de Luis Buñuel, 1962 – a burguesia em confinamento perde as boas maneiras e revela os seus instintos mais primitivos


Por motivo de trabalho e boa dose de descuido, achei-me em Peniche durante alguns dias, sem peúgas. Por coincidência, o dono da casa onde estive alojado rompeu os chanatos, de modo que ficámos ambos de pé descalço.

Isto não constituiria problema em tempos normais, mas em tempo de confinamento à moda do Costa a situação tornou-se crítica: todo o comércio se encontrava encerrado, com raras excepções, não se lobrigando onde comprar este tipo de artigos de primeira necessidade. Pus-me então a cirandar pela cidade, à cata duma excepção salvadora, e eis que, numa ruela qualquer, encontro uma loja de cosméticos aberta. Por sinal, a porta ao lado era uma loja de roupa (fechada, evidentemente). Vimo-nos pois, eu e o meu hospedeiro, perante uma situação deveras criativa: andarmos pelas ruas de pé descalço, sim, mas impecavelmente maquilhado.

Passados dois dias, chegou-me a notícia de que às portas da cidade havia um «armazém chinês» aberto. Meti-me ao caminho esperançoso. Entro na loja e, feita a saudação da praxe, pergunto: