27/01/15

Pinóquio confessa-se ao Bilioso

«Desisto, não consigo competir com a grande Meretriz»

Finalmente, alguém conseguiu bater o recorde de mentiras e logros de Medina Carreira. Já não era sem tempo. MeretrizMG vem melhorando a sua performance de semana para semana no programa «Barca do Inferno»: na edição de 26/01/2015 executou um espantoso concerto de falsos gemidos que duraram o programa inteiro, ininterruptamente, sem parar nunca para tomar fôlego.
Discutia-se nessa sessão o caso da Grécia – fonte maior da mitologia ocidental – e Meretriz conseguiu honrar os criadores do Olimpo com tamanho caudal de mitologias, num ritmo tão frenético e intenso, que certamente saiu dali assada. Os gregos, esses, saíram gravemente doridos – caluniados, injuriados, promovidos a escória da União Europeia, apodados de preguiçosos, falsos, corruptos, incompetentes, cravas, … Perante um tal fluxo de epítetos – um magnífico squirting, na melhor tradição porno americana –, apenas consegui reter na memória uma das fábulas da performer: a de que haveria 4 professores para cada aluno na Grécia – suponho que MeretrizMG pretendia dizer: 4 alunos para cada professor; mas admito que a ordem dos factores num bacanal deste tipo seja arbitrária.

Em atenção aos espectadores que estejam perplexos com os números da mitologia exposta pela MeretrizMG, junto um gráfico onde se compara o verdadeiro rácio alunos/professores em 5 países, para que possam deixar de dar voltas ao miolo e durmam descansados. Confesso desde já que o meu gráfico também contém uma pequena aldrabice: em relação à Grécia, o Eurostat não quis fornecer-me dados estatísticos sobre a maior parte dos anos, com a desculpa de que os desconhece; e a Unesco idem; por isso tive de inventar uma linha gráfica que liga os dois ou três valores conhecidos da estatística grega – senão, pura e simplesmente não haveria gráfico. MeretrizMG, pelo contrário, parece ter obtido todos os dados em falta (pergunto-me que terá ela feito, e em que posições, para obter dos membros das Nações Unidas e da União Europeia um tal jorro de dados).


Já Sofia, que nestas andanças tem acompanhado bem a grande MeretrizMG, pertence a outra classe de artistas de alterne: não sobe ao primeiro andar, limitando-se a fazer uma soft (mas muito provocadora e sugestiva) lap dance. Na sessão em apreço abordou os Gregos dançando a canção «a UE é uma união de direito e os seus cidadãos esperam que as leis e os acordos sejam cumpridos». Depois de saracotear ao som desta bela melodia, retirou-se airosamente, deixando o desfecho da história a cargo da imaginação de cada espectador. Ora, se, em vez de se retirar, tivesse feito o servicinho até ao fim, teríamos ficado a saber que a famosa união de direito reza assim:

Na definição e execução das suas políticas e acções, a União deve ter em conta as necessidades relacionadas com a promoção de um elevado nível de emprego, com a garantia de uma protecção social adequada, com a luta contra a exclusão social e com um elevado nível de educação, formação e protecção da saúde humana [artigo 9.º do Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia].

E mais: os estados-membros sujeitos a programas de ajustamento macroeconómico devem realizar uma auditoria exaustiva às suas finanças públicas, a fim de avaliar os motivos que levaram à acumulação de níveis excessivos de dívida e detectar eventuais irregularidades [Regulamento (UE) n.º 472/2013 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 21-05-2013].

Por outras palavras: os acordos de endividamento e memorandos entre o governo grego e a Troika são automaticamente ilegítimos e não válidos, uma vez que ainda não se cumpriram os preceitos impostos pela «união de direito» para a sua legitimação. O governo grego pode, por decisão unilateral, dizer que suspende o serviço da dívida até à conclusão duma auditoria, a fim de bem cumprir a lei europeia – de preferência envolvendo representantes dos parceiros sociais e dos movimentos sociais, como está expressamente previsto nas citadas normas da UE. Finda a auditoria, se tudo correr bem, ficaremos a saber que parte da dívida pública é legítima, que parte é ilegítima, que parte é odiosa (houve por lá uma ditadura que pode ter legado dívidas ao povo grego, lembram-se?), e, se alguma coisa sobrar, que parte deve ser paga.

Notem bem: eu nem estou a tomar partido nesta coisa da dívida grega. Limito-me a seguir o saracoteio a-bundante de Sofia, que já na sessão anterior nos tinha brindado com dotes de arquiteta: entrou no programa com uma t-shirt «Je suis Charlie» (que é como quem diz, «sou pela liberdade de expressão») e daí a pouco, corajosamente, despiu a camisola e, de mamas ao léu, mandou calar toda a gente que não estivesse de acordo com ela. Seguiu-se uma orgia de gritos e gemidos que ficará nos anais da RTP.

 Sofia despe a camisola e desiste de ser Charlie,
para mandar calar toda a gente

As pobres Isabel Moreira e Raquel Varela bem tentam impor algum decoro naquele lupanar, mas manifestamente não estão à altura de conseguir vencer o vício das duas profissionais de alterne.

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