Um dos fenómenos mais fascinantes da História é a forma imprevista como por vezes uma minúscula faísca, aparentemente débil e insignificante, pode incendiar a movimentação popular, provocando uma viragem dos acontecimentos. O papel destas humildes fagulhas repete-se invariavelmente ao longo da História, em todos os continentes, desconcertando os teóricos, políticos, agitadores e revolucionários que em vão tentaram, durante anos, despertar a combatividade popular. E de repente, sem razão aparente, à margem dos tutores da política, o milagre acontece!
Apesar da imprevisibilidade deste tipo de acontecimentos, uma análise rápida dessas «faíscas» permite-nos compreender porque se transformaram elas em incêndios generalizados; permite-nos até perceber quando pode ou quando «deveria» ter acontecido.
E uma análise atenta e honesta dos tutores da política talvez nos permita compreender também porque não aconteceu antes esse milagre.
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Heloísa e Abelardo, traídos pelos seus próprios tutores depois de terem vivido uma história de amor cuja paixão incendiária subverteu todas as normas vigentes e inspirou 9 séculos de romance e imaginação erótica, resignam-se a passar o resto das suas vidas enclausurados, cada um no seu mosteiro, trocando durante 20 anos pacíficas cartas filosóficas. À distância de um milénio, há nisto um quase prenúncio da quietude dos portugueses após uma história de paixão intensa (o 25 de Abril), seguida da traição abjecta com que os seus tutores os mutilaram. Para toda a vida, como fizeram a Abelardo? |