Sai actualmente mais caro mijar para os esgotos de Lisboa, do que beber o copo de água que gera o mijo.
Seria isto um magnífico exemplo da teoria do
valor acrescentado pelo labor humano, não se desse o caso de não o
ser. É, na verdade, um magnífico exemplo do banditismo da Câmara
Municipal de Lisboa (CML), que inventou 5 (cinco) impostos de
saneamento sobrepostos ao consumo de água propriamente dito (para
além de outros que não vêm ao caso).
Exemplo de uma factura da água (rubrica «contas
de terceiros»):
Adicional CML:
|
1,73
|
Saneamento variável CML:
|
3,51
|
Saneamento fixo CML:
|
2,50
|
Taxa de recursos hídricos ARH
|
0,32
|
Taxa de recursos hídricos de
saneamento ARH
|
0,16
|
Total
de taxas
|
8,22
|
A arma que a pandilha dos meliantes autárquicos
nos aponta à cabeça para extorquir esses 5 tributos é primeva mas
eficaz: ou pagas ou sofres a privação do bem mais urgente e
necessário a um ser humano: água. Por uma coisinha de nada assim se
iniciou o processo de independência da Índia (neste caso com o sal,
em vez da água).
Seria portanto preferível ir viver para um bairro
de lata, onde, não existindo serviço camarário de saneamento,
existe o mesmo cheiro a mijo e a mesma acumulação de lixo que se verifica nos lugares onde
existe serviço camarário de saneamento, com a diferença de no
bairro de lata não ser necessário pagar o dito cujo, por não
existir água canalizada ao domicílio.
Acontece que o processamento do lixo é um dos
negócios mais rendosos à face da terra. Ele produz energia, ele
produz metais, ele produz papel, ele produz tecidos, … Ele foi,
durante gerações, o ganha-pão de gente que andava de rua em rua,
com um carrinho de mão, ou uma carroça puxada por uma mula, ou um
macho, ou um burro, recolhendo os desperdícios dos moradores que
seriam depois transformados em matéria primária para outras
indústrias.
Hoje, os trapeiros, funileiros e outros
respigadores do lixo alheio foram substituídos por grandes empresas
privadas que detêm o monopólio do lixo e sugam os dinheiros
públicos (isto é, os tais 5 tributos que a Câmara nos cobra
mensalmente) e a mula que empurra a carroça do lucro privado é
representada na pessoa de António Costa.
A única tarefa que a Câmara se reservou foi aquela que não pode produzir lucro: a recolha dos lixos, para os entregar aos privados que os transformam em lucro.
E mesmo isso já nem tanto assim. E essa é a
questão que aqui me traz.
As ruas deixaram de ser lavadas, o lixo acumula-se
junto de ecopontos sobrelotados, redemoinham nos ares sacos,
esferovites, papéis, embalagens de pronto-a-comer. Pelo chão rolam
garrafas, lâmpadas, caixotes de cartão, folhas de jornal,
camisas-de-vénus, cagalhões de cão, pulgas, baratas, pombos
piolhosos e ratos.
E nós pagamos as 5 taxas de saneamento. Queiramos
ou não. Ainda que sem razão de ser. Basta que necessitemos de água.
Beber um copo de água da torneira, tomar banho ou lavar a roupa já
não são actos de higiene pessoal. São formas de alimentar o lucro
das empresas privadas. É um mal que, felizmente, nos passará quando
morrermos, ressequidos ou não.
Exortação aos habitantes de Lisboa
Enquanto a CML não cumprir a sua obrigação de
recolher com a regularidade e eficiência necessárias
o lixo dos pontos de reciclagem, enquanto não voltar a lavar e
varrer as ruas,
Enquanto a CML não retirar das contas da água as
taxas destinadas a pagarem esses serviços,
Enquanto a CML não retirar às empresas privadas
o processamento do lixo, retomando em mãos a extracção de lucro do
lixo produzido pelos munícipes-contribuintes,
Apelo a todos os moradores de Lisboa para que:
- NÃO FAÇAM SEPARAÇÃO DE LIXO – metam todo o lixo (orgânico, plásticos, vidros, metais, plásticos, papéis) no contentor comum de lixo – o único que ainda é recolhido diariamente –, para que nada permaneça a enjavardar as ruas durante dias a fio.
- FAÇAM QUEIMADAS A CÉU ABERTO JUNTO DOS ECOPONTOS – se os vossos concidadãos insistirem em depositar pirâmides de lixo junto dos ecopontos atafulhados, a céu aberto, gerando uma situação sanitária caótica, não hesitem: façam uma queimada a céu aberto, para pôr fim à javardice. Em último recurso, se nada disto resultar, queimem também os contentores do ecoponto, para pôr termo à situação.
Nota previdente, antes que se criem
confusões desnecessárias: Quaisquer consequências futuras das
formas de luta que os funcionários da CML entendam adoptar a bem da garantia de
condições de trabalho e remuneração dignas não são para aqui
chamadas, não têm qualquer relação de causalidade com o que fica
acima exposto e merecem desde já a minha solidariedade.
(foto de portugal-hd.blogspot.com) |
local-2, 6-06-2013 (foto de Bilioso) |
local-1, 6-06-2013 (foto de Bilioso) |
Sem comentários:
Enviar um comentário