12/01/14

Acreditas nos OVNIS?

Já tive de responder tantas vezes ao longo da vida a esta pergunta, que vou simplificar as coisas escrevendo a resposta duma vez por todas nesta página, onde os curiosos acerca das minhas crenças poderão encontrar a devida explicação, poupando-me a maiores gastos de tempo e energia.



Então vamos lá.

Comecemos por assumir que a lei da conservação da energia e da massa é universal.

De seguida vamos assumir que seja considerável a probabilidade de haver outras formas de vida inteligente algures nesse vasto universo, e que dentro dessa probabilidade é igualmente considerável a hipótese de algumas dessas formas se encontrarem tecnologicamente muito mais avançadas que nós, o que lhes permite viajar a velocidades próximas da da luz e durante anos suficientes para cá chegarem.

Finalmente vamos assumir que, dentro desse grupo restrito de seres inteligentes mais avançados que nós, alguns vivem 2000 anos, ou mais, de modo que mesmo uma viagem de 10 ou 20 anos não é coisa demasiado assustadora para eles.

Postas todas estas hipóteses de partida, não é nada difícil aceitar que, nessa vastidão imensa a perder de vista (tanto a vista literal como a vista conceptual), eles descobriram uma forma expedita de detectar a presença de vida nas raias do universo.

Portanto a primeira parte da minha resposta aí está: não me custa acreditar que tais seres já por cá tenham passado, ainda que eu não dê um tostão furado pelo testemunho dos que todas as semanas vêem passar um OVNI, como quem se senta à beira da estrada a meditar na vida e por acaso vê passar um Maseratti (coisa que, de resto, nunca vi passar, mas sei que existem).

Agora vem a parte difícil.

Sucede que, devido à nossa primeira assunção (conservação universal da massa e da energia), não pode haver milagres nesta coisa de nos deslocarmos à distância de 10 ou 20 anos-luz - isso consome uma quantidade monstruosa de energia, uma megaquantidade de recursos naturais e colectivos, e uma quantidade de tempo assustadora. Mesmo que os nossos visitantes tenham escapado a esta coisa horrorosa que é o modo de produção capitalista, não há nada a fazer: cada minuto que passa representa tempo, logo, recursos colectivos - recursos esses que são necessariamente escassos (pelo menos à luz de tudo quanto sabemos até hoje), e que portanto, para serem aplicados pelo colectivo lá da terra deles na viagem até à Terra, terão de ser retirados doutro propósito colectivo qualquer.

Ora, repito, a quantidade de recursos e energias necessários para cá chegar é monstruosa. Portanto, se eles são senhores de uma lógica e de uma capacidade de gestão de recursos avançadíssima, temos de deduzir que terão pensado o seguinte: «foi giro isto de descobrirmos o planeta Terra e andarmos a espiá-lo durante algum tempo» [nota: como eles são muito mais avançados que nós, não caíram na esparrela de cometer os mesmos erros que nós estamos constantemente a cometer - isto é, não interferiram no ecossistema local, nem sequer se fizeram notados, para não perturbar o equilíbrio natural cá do burgo]; «mas agora que já vimos como são os terráqueos, não podemos continuar a enviar para lá naves todas as semanas, aplicando para o efeito uma quantidade absurda dos nossos recursos e obrigando por isso o nosso povo a passar fome; portanto vamos deixar a Terra em paz por agora; pode ser que voltemos a passar por lá daqui a 100.000 anos, ou coisa assim, na volta doutra viagem qualquer».

Portanto estou muitíssimo disposto a aceitar que por aqui já passaram OVNIS carregados de cientistas alienígenas, talvez mesmo de turistas curiosos das vistas do universo. Mas há mais: quem disse que a probabilidade de esses seres existirem se reduz a um? É claro que pode haver mais por esse universo fora. Sei lá, digamos: 20? Bem, vamos supor que são 400 ao todo, espalhados por esse vastíssimo universo. Isto já permitiria supor uma bela quantidade de trânsito em matéria de OVNIS. Mas ainda assim falta-nos resolver aqui alguns problemas.

A Terra, com a sua crosta sólida e acompanhada da sua bela Lua, existe há cerca de 4,5 mil milhões de anos. Crê-se que a primeira molécula capaz de se auto-replicar foi criada há cerca de 4 mil milhões de anos. Digamos que a existência desta molécula bastaria para emprestar algum interesse ao planeta, do ponto de vista dos viajantes intergalácticos, e portanto a partir daí é admissível que eles, assim que o aparelhómetro que assinala existência de vida nas raias do universo apitou, tenham colocado uma cruzinha nas suas cartas de navegação, «vamos lá ver o que se passa ali».

As primeiras populações de hominídeos apareceram há coisa de 200 mil anos. Ora, 200.000 em 4.000 milhões de anos representam uma relação de 0,00000005%. Se quisermos calcular a probabilidade de um ET ter acertado em cheio na nossa humilde existência humana ao passar por cá, é por este número que temos de começar.

Dito isto, é preciso acrescentar o seguinte: a probabilidade é apenas um cálculo teórico, uma coisa abstracta. A realidade é outra coisa. Ainda que a probabilidade de acertar no Euromilhões seja igualmente da ordem dos 0,00000005%, do que não restam dúvidas é que quase todas as semanas alguém acerta. Daí até uma mesma pessoa construir uma autoestrada permanente de acertos visíveis no céu estrelado do nosso planeta vai uma distância incomensurável - e sobretudo um gasto de recursos insustentável.

Sem comentários:

Enviar um comentário