14/04/16

Morte aos militares

Decorre um conflito entre as hierarquias militares e as autoridades públicas (civis), a propósito de um conjunto de indícios de comportamento – discriminatório, contrário à norma igualitária vigente no país e à carta dos direitos humanos – ocorridos num colégio militar. O ministro pede explicações à chefia militar sobre a situação; a chefia militar indigna-se perante esta «ingerência» nos assuntos internos da corporação militar.

 
A maioria das pessoas, hoje em dia, não faz ideia do que seja o exército, de como ele funciona internamente, do pacto interno de segredo sobre o que se passa lá dentro. Uma vez que eu tive o desprazer, durante a época da Guerra Colonial e em 1974-75, de ser obrigado a conhecer por dentro essa instituição, vou tentar dar-vos uma vaga ideia do que é aquilo.
 
  
Começo por elucidar que o facto de se estar ou não em guerra não altera um milímetro o carácter do exército. Com ou sem guerra, os princípios, comportamentos e métodos que formam o carácter dos militares de carreira são uniformes.
 
  
Existem dois princípios fundamentais que estruturam e disciplinam os membros das forças armadas e militarizadas:
   
1.º – Hierarquia – Esta é a espinha dorsal de todas as forças armadas, militarizadas e policiais. Um exército tradicional pode funcionar sem armamento, mas nunca sem hierarquia. É, além disso, uma hierarquia de casta. A tropa é uma sociedade de castas onde impera a discriminação e o apartheid, desde as fardas até aos refeitórios e casernas. Tudo é escalonado: há «superiores» e «inferiores»; os superiores de uns são inferiores de outros, e assim sucessivamente, até se chegar ao mexilhão. Esta pirâmide é embebida no fundo do cérebro de todos os militares de carreira, como lá se tivesse sido impressa por um ferro em brasa. O objectivo da cadeia hierárquica é optimizar o exercício do poder.
Para que a ideia de hierarquia se torne consciente e concreta, tem de incluir comportamentos de superioridade e precisa de se exercitar constantemente, não vão eles ceder ao que lhes resta de humanidade e olhar para os seus semelhantes como … iguais. Ora o fundamento da hierarquia é precisamente a desigualdade e a discriminação. Assim, um «superior» pode (em caso de necessidade) confraternizar com um «inferior»; mas depois, mais tarde ou mais cedo, terá de praticar qualquer acto execrável em relação ao pobre diabo, para repor a ordem e o respeitinho e para se sentir bem consigo mesmo.
À margem da pirâmide hierárquica encontram-se os civis, dissimuladamente encarados pelos militares como uma raça inferior e desprezível (embora útil, daí a cortesia por vezes simulada), pelo simples facto de não pertencerem na sua maioria a um sistema hierárquico de poderes. A pertença a uma escala hierárquica substitui, na mentalidade militar, a noção de humanidade. Daí que os militares possam demonstrar algum respeito por pessoas que pertencem a outros tipos de corporações altamente hierarquizadas.
No campo de batalha, dois oficiais pertencentes a campos opostos enfrentar-se-ão (pelo menos em teoria) com respeito mútuo e combater-se-ão com «honra»(?); um civil, pelo contrário, é uma coisa que não lhes merece qualquer respeito, por isso pode ser sujeito a uma morte desonrosa ou humilhante. Este mau carácter militarista permite compreender a facilidade com que as forças militarizadas conseguem carregar sobre uma multidão pacífica, sem hesitarem nem sentirem remorso. Permite também compreender, no caso do conflito em curso entre as autoridades militares e as autoridades civis, a raiva dos militares por terem de sujeitar-se a um berdamerdas que … nem sequer é militar!
Talvez, em amenas conversas privadas, um oficial de carreira queira convencer-vos de que toda esta descrição é um exagero, talvez jure a pés juntos tratar-se apenas de um forte sentido corporativo, de camaradagem e união entre os militares de carreira. Não se deixem iludir. É mesmo um sentimento racista e pesporrente aquele que vigora nas fileiras das forças militares profissionalizadas.
  
2.º – Obediência – Uma vez instalado o sentido da hierarquia, a sua forma privilegiada de expressão é a obediência. Na tropa vigora um princípio sagrado: primeiro obedece-se e só depois, se for caso disso, se protesta. Entendam-me bem: o protesto é admitido e admirado em certas condições. Mas primeiro obedece-se. Borrego que não obedeça é imediatamente imolado.
Este princípio não admite excepções: se um «superior» vos mandar dar um tiro na vossa mãe sem nenhuma outra razão atendível que não seja o capricho, o que há a fazer é primeiro matar a mãe e depois lavrar um protesto contra a inadequação da ordem. O protesto pode ser atendido e o «superior» que deu a ordem pode até ser punido – entretanto a mãe morreu e já não há nada a fazer, mas que importância tem isso se ela não é militar?
A justificação apresentada para sustentar este princípio é seguinte: assim se impede pôr em risco a própria vida e a dos camaradas de trincheira, pois se perante uma ordem para disparar nos pomos a pensar se ela é justa ou não, damos oportunidade ao nosso «inimigo» para nos dar ele um tiro a nós (estas regras foram estabelecidas antes da invenção dos drones assassinos, claro está); cumprem-se portanto as ordens cegamente, ainda que isso resulte na perda de milhares de vidas inocentes. Isto demonstra o carácter intrinsecamente cobarde do sistema de pensamento militarista.


Destes dois princípios básicos derivam imensos corolários. Poupo-vos à sua desagradável descrição, porque creio que o essencial está dito.
 
A indústria cinematográfica de Hollywood produziu dezenas de filmes, uns glorificando, outros criticando o sistema militar; ambos tentam retratar o carácter da corporação militar. Acreditem ou não, tudo o que possam ter visto nesses filmes fica muito aquém dos horrores da realidade. Dou-vos apenas três exemplos concretos.
 
Em caso de conflito armado prolongado, o exército vê-se obrigado a fazer uma coisa que detesta: admitir civis no seu seio. Nessas circunstâncias, a formação dos recrutas tem de ser acelerada – é preciso cravar no fundo do cérebro dos recrutas tudo aquilo que os militares de carreira levaram anos a assimilar na escola militar. 
Ora nalgumas unidades militares existem explorações agrícolas e pecuárias e quando assim acontece certos «superiores» matam o tempo passando a cavalo pelos recrutas em campo e mandando-os rastejar nos tanques onde é armazenada a merda de porco. Geralmente esta ordem é acompanhada dumas quantas chibatadas. De resto, as sevícias, brutalidades e humilhações impostas aos «inferiores» são moeda corrente no exército.
 
A bestialidade dos militares extravasa facilmente os limites do exército, sempre que haja ocasião para exercer poder. É o caso de um «superior» que apanhou a filha a namorar com um soldado (crime de casta). O oficial em questão amarrou a filha a uma cadeira, no meio da parada (com toda a população do quartel a assistir) e rapou-lhe o cabelo. A humilhação bestial é um dos métodos preferidos para impor de forma rápida e eficaz a obediência hierárquica e atemorizar os circunstantes.
 
Finalmente, há que recordar que no exército, como em todos os sistemas de hierarquia férrea, a corrupção faz parte do quotidiano: por um lado não é possível sobreviver ao regime desumano duma hierarquia férrea sem abrir brechas clandestinas na sua estrutura; por outro, os sistemas hierárquicos favorecem o abuso do poder e portanto a corrupção. Vi muitas vezes os sargentos usarem os aviões e camiões do exército para transportarem contrabando (álcool, electrodomésticos, tabaco, marijuana, etc.). Os oficiais não aderiam directamente a estas práticas (são «superiores») mas em compensação não se importavam de receber por baixo da mesa uma parte dos lucros do contrabando, para não bufarem. Quanto aos soldados rasos, não recebiam nada (talvez um miserável maço de tabaco) e eram obrigados a carregar e descarregar o contrabando do sargento, mantendo-se também eles calados sob pena de aplicação de castigos severos – a escravatura é um dos arcaísmos do exército.

Existe uma solução simples para eliminar esta casta de bestas que gostam de brincar com canhões: metê-los todos num desses submarinos que Portas e Costa gostam de comprar e atirá-los definitivamente para o fundo da fossa abissal das Marianas.

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Documentos sugeridos:

«Abusos em instituições militares», 2011, SIC, via Youtube.

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Corrigido e acrescentado em 14-04-2016.

1 comentário:

  1. Sinceramente, não consegui ler até ao fim o seu texto merdoso. Feito por um merdolas que não faz ideia do que escreve. Merdas como você não merecem o ar que respiram.
    Já agora seu merdoso, aplique as suas regras dos comentários também ao conteúdo dos seus textos "Não são publicados comentários mitómanos, de manifesta má-fé ou contendo erros grosseiros de avaliação da realidade."

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