Pessoalmente não sou frequentador do Facebook. Em
contrapartida participo em rodas de amigos que, por sua vez, são
frequentadores do Facebook. Por essa via inteirei-me de várias polémicas que
têm circulado nas redes sociais a propósito da vaga de censura
puritana que grassa por aí.
Entre os exemplos mais pertinentes estou a
lembrar-me de quadros censurados nos museus, de reproduções de arte
rasuradas nas ruas, da suspensão de programas televisivos de índole
pedagógica que envolvem crianças (pois, se são pedagógicos, é
natural que envolvam crianças), de exclamações de indignação
face ao manifesto antipuritano pontuado por Catherine Deneuve.
Mas o que mais me impressionou nestas conversas
foi o relato das agressões às vozes que se levantaram contra a
censura, o puritanismo velado e outras atitudes do mesmo quilate –
todas foram, segundo entendi, insultadas, zurzidas (virtualmente,
claro está) e até banidas, num tipo de atitudes que não deve ser
confundido com o debate enérgico de ideias. Confunde-se, isso sim,
com a censura de costumes e ideias.
Quem sofre as agressões – e até quem, não
participando na peleja, se limita a assistir – não pode
deixar de se sentir intimado a refrear as suas ideias, a ter cautela
na expressão da sua autonomia intelectual, tenha ou não tenha
razão. Até porque o que está em causa não é a razão, mas sim a
aprovação social, a conformidade a normas sociais imperativas que
pouco a pouco se vão estabelecendo em domínios donde tinham sido expulsas. A penalidade maior é o ostracismo social (em rede).
Foi assim que me dei conta duma coisa que já
presenciava há muito, mas que se ia esquivando à minha consciência:
as redes sociais do tipo Facebook só na
aparência são instrumentos de expressão pessoal; elas tornaram-se
efectivamente um instrumento de controlo moral e social. São
a janela por onde se espia o alheio. São a bitola por onde se afere a
conformidade a modelos sociais cada vez mais apertados e imperativos.
São as seteiras por onde se assestam os dardos da punição.
Posto isto, tenho de reconsiderar muito seriamente
se as abundantes sessões de masturbação de homens e mulheres
on-line, na intimidade dos seus quartos, serão meras
demonstrações narcísicas ou se devem ser sustentadas
(por nós, resistentes) como gritos de revolta prazenteira.
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