21/10/19

Crónicas do DocLisboa (5)



Longa Noite | Endless NightEloy Enciso
2019 • Espanha • 90’
São estas crónicas não uma colecção de críticas ou recensões, apenas impressões, memórias e divagações.

Só em idade avançada me dei conta de que a minha memória, que já sabia ser frágil e muito limitada desde os tempos de escola, só regista bem as coisas ligadas a situações emocionalmente agradáveis; o resto tende a cair no esquecimento e nunca mais se levanta.
Assim, não fora o trailer existente no site do DocLisboa, creio que teria sido incapaz de recordar o assunto e as imagens do filme de abertura do festival, Longa Noite - não tão longa assim para mim, que saí a meio da fita.


Em primeiro lugar, convém dizer que este filme, que teve honras de abrir um festival de cinema documental com dimensão internacional (e não podia ter sido outro, nas palavras da directora do festival), não é um documentário, mas sim uma ficção - embora possam os programadores esgrimir e divagar sobre as fronteiras entre o documento e a ficção documental. Tanto quanto pude aperceber-me, grande parte do texto do guião sustenta-se em testemunhos de sobreviventes à Guerra Civil espanhola.

O filme abre com uma imagem bela, quase sacra, e daí por diante tudo me pareceu decorativo. Ter-me-ia interessado muito ler o texto, ficcionado ou não. Mas a imagem estava ali plantada no meio do caminho, feita emplastro, a atrapalhar-me a leitura - era fotografia decorativa, não necessariamente cinema.

Passado algum tempo, quando comecei a sentir as pernas inquietas e aborrecidas, pensei que a solução seria simples: bastava-me fechar os olhos e apenas ouvir o som. Rapidamente concluí que, como programa radiofónico ou obra acusmática, aquilo resultaria muito bem. Só havia um problema: a minha dificuldade em seguir com proveito o galego cerrado dos personagens.

Para não perturbar outros espectadores com as minhas pernas inquietas, pu-las a marchar dali para fora.

(crónica anterior: Abertura do DocLisboa)

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